Uma Geração de Personagens Fracassados
Antes do fim de Meliny, escrevi contos sobre meus personagens mais bem-sucedidos. Cada um teve seu momento de brilhar. Pela primeira vez, não forcei um protagonista — todos eram especiais. Eu os conhecia, os amava, e foi natural dar espaço para cada um.
Mas depois disso… algo que não entendi na época começou a acontecer.
Meus personagens passaram a fracassar.
Não por falhas narrativas naturais, mas por narradores interessados em demonstrar como seus mundos eram mais importantes do que qualquer personagem que ousasse habitá-los.
Mirumoto Dorobo, um samurai honrado, foi enviado por Zeus em uma missão divina. No fim, a “grande missão” era uma pegadinha. Quem salvava o dia era uma criança aleatória. Dorobo cometeu seppuku.
Amellie, criada para ser impossível de ignorar, surgia numa campanha onde o grupo era tratado como irrelevante. A campanha foi sabotada e Amelie foi exigida a se aposentar.
Faux, Cavaleiro Rúnico, sucumbiu a vampiros e dragões com builds bizarras e meta-conhecimento injusto. TPK. E os mesmos dragões que sabiam tudo… temiam os vampiros. A cada passo o DM tentava negar qualquer habilidade do personagem.
Lorde Edgjy, uma sátira de edgelords, tinha uma gimmick clara. O DM foi flagrado procurando monstros especificamente feitos para neutralizá-la. Foi u. Personagem de one-off, e o que mais me incomodou foi a mesquinhez do que perder o personagem desta vez.
Thalon, meu primeiro mago. A magia passou a ter custo proibitivo. Os inimigos ignoravam os tanques pra bater no familiar. Armadilhas só ativavam se eu pisasse. Monstros eram imunes apenas às minhas magias. E no fim, o vilão do mundo foi solto por minha culpa. Só por existir. Literalmente a "Chave" jamais anunciada para libertar o mal seria alguém "Usar magia". E meu personagem era o único usuário de magia a aparecer em toda a metade final da campanha.
Lizzo nem teve direito a uma “provinha de feira”. Sempre que sua build parecia funcionar, o monstro ganhava uma habilidade inventada na hora. No fim da sessão, o DM mostrou a ficha — e tal habilidade não existia.
Capri, o Cavaleiro da Putelância, teve habilidades que não funcionavam, magias canceladas por cantorias off-table, slots gastos por semântica... e quando disse “quero erguer minha igreja”, o narrador respondeu: “então você começa a empilhar tijolos.”
E por fim, Daidoji Ayro. Um samurai militar arrastado para um torneio irrelevante. Seis meses de missões fadadas ao fracasso, até culminar num TPK ativado por cutscene. DMPCs com poderes passivos quebradores de mundo. Gaslighting. Retcons. Intimidação. Manipulação emocional.
---
Não foram os dados. Nem os monstros.
Foi a negação constante de protagonismo. O desdém pelo esforço criativo. A vontade de provar, a cada sessão, que o personagem do jogador não tem lugar na grandeza do mundo do mestre.
E quando o fracasso não nasce da escolha… ele vira só um lembrete de que você nunca teve permissão para vencer.
0 comentários:
Postar um comentário