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10 de junho de 2013

Os PJs: Mesa de Jogos




Mesa de Jogos

Tholen e Hellen refizeram o grupo, como pretendiam. Maior do que imaginavam, uma vez que além de Nobunaga, dezenove soldados da Guarda Vermelha acompanhariam o Hatamoto enquanto estivessem em terras estrangeiras. O anão do Forte das Armas não estava muito contente com aquilo. Fora Nobunaga, havia grande grau de – em suas palavras – incapacidade de manter-se vivo em briga de macho por parte dos vermelhinhos todos. Mesmo o tenente Akashi.

Alias... Tholen só tinha a “fama” do samurai e o fato de reconhecer que ele era veloz e rápido. Não chegou a assistir uma luta sua... Sequer ver o “daichô dos Quatro Ventos”, suas armas-assinatura.

Gen Nobunaga era um samurai perfeito. Em sua fachada, tratava aquela missão autoimposta como um encargo. Algo que o destino, coisa importante para os wenhajins espiritualizados, tinha colocado em seu caminho. Mas em seu ânimo, sua alma de guerreiro e sua ambição de espadachim fervilhavam. Chegara bem cedo ao topo da hierarquia dos homens de armas. Acreditava que somente os servos pessoais dos shoguns e os seus iguais hatamotos poderiam sequer fazer frente a ele em armas. Mas os primeiros eram intocáveis, invioláveis, por seu status.

Os segundos... Salvaram sua esposa e filho. Jamais poderia tornar a erguer lâminas contra o menor deles.

Midori era o extremo nesses sentidos. Refém político, ainda esperava que uma vez alertados de sua situação, seu pai e seus compatriotas tomassem uma atitude. Mas deixaram a capital insular da Doravânia rápido demais. No continente, não havia preparativos para rastrear Nobunaga. E a rota por terra daria considerável dianteira aos viajantes... Se é que seu pai fosse descumprir os termos da trégua honrada de Nobunaga.

- O senhor vai adorar Tréville, Nobunaga-sama. - falava Hellen, animada, forçando cada vez mais as barreiras de status, testando e moldando as formalidades do Hatamoto. - Eles têm muito em comum com os Wenhajins. A população inteira é voltada para a arte da lâmina...

- População inteira?!? - exclama surpreso. - A espada é um privilégio em minhas terras. Como o país inteiro não se esquarteja em guerras civis?

- Porque os Trevilenses são frouxos como um povo. - resmunga Tholen.

A feiticeira sorri.

- Tholen... Indique um povo, fora seus queridos compatrícios, que não seriam... “Frouxos como um todo”.

O anão se cala um segundo, olhando pensativo.

- Dol'oam não é vassala da coroa de Lyon, os austeros cavaleiros do oeste?

- São sim... - rosna Tholen. - E daí?

Hellen volta-se a Nobunaga.

- Não baseie suas impressões nas opiniões de Tholen, meu senhor. - fala ela. - Grandes heróis de Meliny são nativos de Tréville. Saint Paul DeLuca... Mosseur Bleur... Cap. Hardman...

- As grandes cidades de Tréville estão fora de nosso itinerário. - observa Nobunaga. - Contornar o monte Janar foi uma garantia de rumamos para o oeste do lado certo do rio sem depender de travessias. Não creio que encontraremos grandes nomes da espada no norte.

- Mesmo se for uma fração menor... Não seria uma nova visão? Uma arte não-familiar?

O hatamoto sorri. A possibilidade o animava.

- Anão! - eleva a voz o wenhajin. - Uma boa resposta à pergunta que lhe fizeram: kara dansei Wen-ha.

- Ah, não pergunte o que não quer ouvir, ô do vestidinho verde... - resmunga Tholen. - Eu ainda estou pensando!

(…)

Era o fim do primeiro dia de viagem. O grupo seguia uma trilha na montanha que os forçavam a seguir em linha. Carroças de mantimentos eram guiadas por mulas robustas adquiridas ainda em Habênia. A maior parte dos suprimentos eram sacas de arroz, cogumelos e vegetais desidratados. No percurso, Tholen soube que “o glorioso” samurai não comia carne e por isso não traziam nos mantimentos. E protestou muito...

Já passava da hora de conseguirem um abrigo, mas a estrada estreita não era o ideal para erguer um acampamento. Seguiam em busca de uma reintrância ou de cavernas, mas aquele trecho antigo era pouco utilizado. Com as Doravânias em guerra, os destinos finais eram arriscados, assim, o comércio buscou as rotas marítimas, alcançando Habênia. Era verão, então a luz do dia perdurava um pouco mais. Mas o frio daquelas altitudes começava a se fazer sentir. Tholen quem primeiro percebeu, primeiro uma trilha desgastada, na rocha, subindo a montanha. Depois um longo platô, de rocha branca com bordas arredondadas. Protuberâncias solitárias e quase cilíndricas eram percebidas nos dois extremos da formação.

(...)

- Que mesa estranha... - observa o anão.

- “Mesa”? Estranha Hellen.

- É como nosso povo chama essa formação. - adianta o anão. O Flagelo não era versado no trato social, mas seu povo era consideravelmente culto ao se tratar de aço e rocha, desde avaliação e trabalho nestes materiais a identificar as formações rochosas. - Pequeno para um platô, grande demais para uma rocha solta. Era uma bela peça em sua formação... As chuvas e os ventos lavaram bem, bordas desta rocha...

- É isso que acha … “Estranho”? - pergunta Nobunaga. Não estava interessado, mas sentia-se obrigado a saber de todas as possíveis peculiaridades da viagem, e identificar pontos de referência.

- Bem, é estranho porque isso aí não é uma formação natural!

Hellen olha de um extremo ao outro.

  • Parece natural para mim. É a mesma rocha do resto da montanha onde não está sedimentado... Mesmo período de tempo...
- Para olhos bem treinados, não. - fala Tholen, destacando-se do grupo. - A erosão indica que tem mais de milênio largado aí, exposto ao tempo... Ficando igual à rocha nua natural. Mas vai por mim... Essa mesa não foi feita por Falena ou Gorak!

- De qualquer forma... - fala Nobunaga. - É o melhor ponto de acampamento que vemos em horas. Vamos para lá.

(…)

A teoria de Tholen mostrou-se correta ao subir na formação. Quanto mais longe da borda, mais fácil eram reparar sulcos regulares horizontais e verticais formando quadrados de 1,5 metros de raio, impossíveis de terem sido naturais. Os mais grossos demarcavam o meio da mesa no sentido maior. Ela revelou-se ter 63x42 metros. Os cilindros – dois ao todo, em cantos de extremos diagonalmente opostos – elevavam-se a 3 metros e tinham diâmetro de 3 metros. Era possível ficar de pé e mover-se regularmente por eles, mas precisava escalar em sulcos desgastados pelo tempo. Um fosso circundava parcialmente a formação retangular, parandodo lado da encosta da montanha, por onde pareceria um platô.

- Eu já vi algo assim antes... - observa o Hatamoto. - Na cidade de Shora. É uma arena de magos de batalha. Mas em Shora, é menos largo, mais longínquo. As “torres de artilharia” são mais altas, e há um fosso com água no centro, com uma ponte ligando os dois campos. E costumam usar magia para tornar parte dos dois campos armadilhas de terreno.

- Este deve ser mais rústico então. - fala Hellen. - Opiniões, Tholen?

- Esta bagaça foi restaurada pelo menos uma vez antes de ser abandonada... - fala o anão. - Sabe... Leva perto de mil anos para desgastar rocha tão regular como essa... Então, não só 'sa porra é quase tão velha quanto a montanha como foi bem usada no intervalo de sua criação e seu abandono perto de mil anos atrás. Quanto tempo tem seu reino, hein, Wenjaca?

- A gloriosa terra das Cerejeiras tem mais de três mil anos de história. - resmunga revoltado Akashi. - Nossa era atual encontra-se no ano 977. Contada de quando os Deuses nos separaram do maligno e belicoso continente! Mas já éramos um reino de honra antes, e sempre fomos uma província respeitosa ao Grande Stygh quando parte do império dracocrata!

- Se não me engano... - recorda Hellen. - Os Shorians são uma família antiga, dessa época, não é?

- Exato. - concorda o Hatamoto. - Mais antigos que muitos dos shogunatos inclusive.

- E se essa “Arena de duelos” foi uma evolução de um jogo dos dragões? Podemos estar em cima da arena original. Dragões de outrora teriam poder mais do que suficiente para moldar algo como isso.

- Você nunca viu um dragão, né, garota? - brinca o anão. - Isto não foi feito para eles... Mas para humanóides. Aqueles lagartos sádicos deveriam sentar nesses fossos, deixar os escravos se digladiarem, ou então ficariam cuspindo fogo e raio nos desgraçados.

- O que importa... É que não tem lagartos por aqui. - fala Nobunaga, inibindo sua coriosidade arqueológica. - Vamos acampar e com mais luz do dia, investigamos ou partimos.

(…)

- O que é isto?!?

Midori nem imaginou como Hellen aproximou-se dele sem ser percebida, mas mal ouviu, sentiu as tarjas serem tiradas de sua mão.

- Ei! - protestou. - D-devolva!

Esquecendo sua condição de prisioneiro, salta da carroça de suprimentos que servia como “cela” no encalço da saltitante feiticeira. Os soldados ao seu redor só o viram quando já estava longe. Midori preservava as amarras, e Hellen, mais alta, esticava o braço deixando as anotações além do alcance do jovem.

- Soldados! - urra Akashi, interpretando um ataque do prisioneiro. Três da Guarda Vermelha projetam-se na direção do shinobi, que se dá por rendido. Hellen afasta-se e trata de folear as quatro tarjas em papel de seda.

- O que foi agora? - protesta Tholen, levantando-se tão rápido como seu desajeitado corpo permitia. Era o único, fora os guardas do turno de vigília, ainda de armadura. Costumava a dormir com a proteção.

- O prisioneiro pegou papéis explosivos enquanto os carcereiros estavam dormindo em serviço! - repreendia Akashi, com o olhar acusador levando vergonha aos que deveriam vigiar Midori.

- Minhas r-runas pre-precisam de mama-mais que ca-carvão e seda... - fala desafiador o jovem. - Isso aí é pe-pessoal!

- Creio que ele tem razão... - responde a feiticeira. - Tholen, este aqui é seu... Este é meu... E olha, Nobunaga-sama! Ele fez um para você também!

Tholen toma “o seu”. Nobunaga estava ignorando a comoção até Hellen acenar com um dos papéis, e passou a caminhar na direção do grupo.

- Okey... Desenho de uma casinha num pentágono... - olha de sobressalto o anão. - E letrinhas de Wenha.

- No canto direito, é o seu nome... Bem, fonemas. - ensina Hellen. - E nas arestas do “pentágono”, está escrito... - ela força a memória, procurando termos para traduzir. - Sagacidade, Chi, estamina, Ninj... Ninja, combate …

- Ninjutsu. Taijutsu. -Enumera Midori. - Chi. Estamina. Sagacidade.

- O desenho é um gráfico matemático. Ele está enumerando nossos talentos. - observa Hellen torcendo o nariz. - Olha só quanto Chi ele me deu... Mas eu creio que sou mais Sagaz que isso aqui...

Nobunaga toma a sua e analisa por alto. Depois, dá uma olhada na de Tholen

- Você diz que o anão é melhor do que eu?!? - fala ofendido.

- s-s-Só em Estamina. - defende Midori. - você o su-supera em Ninjutsu... A-a-aagililidade e furtivi-vi-dade. E t-também em Ta-Taijutsu, a arte do cococo-combate.

- Ei! - protesta Tholen. - Tá certo que eu não sou gracioso... Mas eu parto ao meio qualquer um aqui se precisar.

- Não comece algo que não possa terminar, anão... - fala Nobunaga com descaso.

- Certo, senhores da testosterona... - Hellen interrompe e toma os papéis. Sabia para onde a conversa iria se Tholen tomasse para o pessoal a alfinetada de Nobunaga. - Parece que nosso pequeno espião está tendo sucesso em jogar com nossa vaidade. E este papel aqui sem nome? É do Akashi?

Midori não responde.

- Está claro que ele pretendia informar algum grupo de resgate contra o que estariam lidando... - fala Tholen, tomando os papéis de Hellen para si.

- Duvido. - fala Nobunaga. - Ainda estou certo que ele honrará sua palavra. A fuga seria a destruição de sua aldeia.

- Neste caso... - observa Hellen. - Por que as amarras então? Está óbvio que ele circula por nossas coisas independente delas.

Nobunaga encara o shinobi e depois Akashi. Ponderava as palavras.

- Ela tem razão. - decide enfim. - Quero dois guardas com o garoto o tempo inteiro. Mas tire as cordas.

- T-tem certeza que n-n-não poposso fificar com elas?

Midori mostra as mãos desamarradas. As cordas enroladas em um laço para resguardo. Akashi roça os dentes.

- Três guardas, é melhor. - corrige Nobunaga, deixando o local, e entregando sua “ficha” a Tholen. - Deixem-no ir à fogueira.

Akashi indicava os que ficariam. Hellen e Tholen percebem-se sozinhos com o jovem.

- Eu vi que haviam muitas rasuras na minha ficha... - fala a feiticeira com um sorriso. - Sou tão difícil de ler assim?

- É... É que n-n-nem sei que ti-tipo de Youkai é vo-vo-você...

A resposta do gago deixou a dupla desguarnecida. Quando Hellen enfim capturou Midori no Saveiro, Nobunaga e seus servos assumiram que a manifestação das asas era uma mera transmutação arcana. Mas Midori não só esteve mais tempo e mais perto de Hellen como era um shinobi versado em ilusões. Ele poderia não saber onde estava se enveredando, mas não se iludia tão facilmente.

- Entendo o que diz... - ela fala enfim. E remove uma tiara de seus cabelos. Quando destaca-se deles, a tiara vira uma “quipá”. - Conhece isto? É um Chapéu dos Disfarces. Não sou muito boa em ilusões, e mesmo se fosse, com um destes, posso fazer sutis alterações e até mesmo me disfarçar.

- E-eu conheço o e-e-encantamento “hengê”. - fala Midori. - E d-d-daí?

Hellen sorri. Depois joga o disfarce para Tholen.

- Se esta não fosse minha forma, se fosse uma ilusão, eu deveria retornar sem ele, não é?

- F-f-faz sentido... - Midori não era ingênuo, mas estava tratando de outro nível. Não só Hellen era convincente com as palavras como uma propensão sobrenatural minava a pouca resistência que seu alvo poderia erguer a seus argumentos.

- Sinta... - completa ela. - Esta é a minha mão... E esta é minha pele... - A feiticeira segura a mão do jovem shinobi. Sente-a fria e suada, em contraste com sua mão quente e pulsante. E lentamente aproxima-a de seu rosto, sem tirar o contato visual. A alva face wenhajin ganhava tonalidades róseas e vermelhas de embaraço. Mas enfim, ele é salvo pelo anão.

- Mocinha, venha cá... - fala o anão abruptamente, pegando Hellen pelo ombro e arrastando-a para longe de Midori. - Questão de Ordem.

(…)

A linha do centro foi escolhida como local para a fogueira. A vegetação nos arredores não era propícia a lenha, sendo apenas algumas plantas rasteiras e arbustos secos. Peças sobressalentes de uma da carroça forneceu o lenho necessário. Nobunaga encontrava-se em posição de Lotus diante da fogueira. Akashi usava um braseiro para colher carvão da fogueira. A maioria da guarda vermelha preparava-se para dormir nos arredores da fonte de luz, deixando seis de guarda nas bordas da Mesa, e mais três alimentando e vigiando Midori.

Mal eles percebiam movimentações no fosso e na encosta. Uma emboscada particularmente traiçoeira estava sendo orquestrada.

(…)

- O que foi aquilo?

- O que você acha? - protesta Hellen, esfregando o ombro que Tholen agarrou rudemente para afastá-la do resto do grupo. Estavam junto de uma das pedras cilíndricas, a que aproximava-se do penhasco. Avistavam um sentinela armado com arco longo, e por isso controlavam a voz.

- Estava hipnotizando o garoto? - interroga o anão.

- Não. Estava convencendo que eu não sou uma impostora.

- Ou seja... Estava Mentindo!

- O que quer dizer? Midori é mais esperto que Nobunaga e os seus homens. Ele já estava desconfiado!

- E daí?

- Tholen... - olha assustada a feiticeira. - Você … Quer que eu seja desmascarada?!?

- Claro que quero! - resmunga o anão. - Entendo que precisa ganhar confiança antes de se mostrar... Foi assim comigo, com Gunther e Nindrille... Mas se tirar a ideia do garoto e depois ele vier a descobrir... Você nunca mais terá a confiança dele!

- Está confiando que ele não vai fugir, morrer, ou nos entregar aos seus superiores, Tholen. - fala com um peso de malícia e crueldade em sua voz a feiticeira.

- Bem, ele não quer isso. - rosna o anão. - ele está vivendo um sonho aqui fora, conosco!

- Como é que você sabe?

Tholen tira as tarjas de dados que confiscou do jovem. Ergue uma que não tinha nome.

- Esta aqui... Tem as informações DELE! - fala o anão. - E fez em papel de seda porque ele fica translúcido contra a luz.

Rudemente, ele estende as tarjas à moça. Hellen recebe-os. Percebe alinhados como cartas de baralho. Estimulada pelo anão, ela analisa as quatro peças contra a luz da fogueira no centro da Mesa.

As sombras do carvão dessas tarjas atravessam a seda. E as arestas dos dados dos quatro constantes deles formam uma figura geométrica quase perfeita.

(…)

- Sé-sério que n-n-não tem carne? - protesta Midori.

- Carne é impura e indigna do Glorioso. - responde um dos guardas, de nome Dai Ni. - A Guarda Vermelha segue sua dieta.

- O Hahatamoto não está s-s-sempre com vo-vo-vocês... - observa Midori. - E-e-então vo-vocês po-po-podem co-comer c-c-carne qu-quando n-n-não p-prestando a-a-armas a Nobunaga-sama?

- Não importa. - retruca ele.

- S-se não p-por mim, p-pense nos g-gaijins. - insiste Midori. - Eu v-v-vi um la-la-lagarto no c-cilindro... la-lagartos não s-são saborosos, mas é me-me-melhor que a-aroz e cocogumelo seco.

Midori aponta com o rosto um dos extremos, a pedra quase rente ao vão da Mesa. Dai Ni aguça o olhar e percebe o rabo da criatura e seu volume escondendo-se. Deveria ser um animal selvagem. Talvez trinta centímetros de corpo e o dobro disso com a cauda. Se não servisse como alimento, ao menos deveria ser afastado como praga.

O guarda pega um Boken – espada de madeira envernizada - e avisa aos colegas para ficarem com o prisioneiro. Ele aproxima-se pela extremidade oposta à da sua presa. Estava sem armadura e era disciplinado. Esgueirava-se com competência na direção da caça

Despretensiosamente, Midori projeta sua “jóia do espírito” da testa na direção do caçador. Ia por um flanco tido por protegido. Ele só o alcança pouco antes do guarda, já avistando a silhueta do alvo, fazer mira com o Boken. Midori queria vislumbrar o ataque... Mas o que ele vê o choca...

- N-n- … - a gagueira trava seu alerta. - VOLTE! - urra enfim Midori.

Simultaneamente, Dai Ni golpeia o lagarto que mirava. Era azul, e seu golpe o surpreendeu. Ele tem a coluna partida e cai morto no piso de pedra.

Os doze que o seguiam, todos maiores que o primeiro, não aceitam o ato com passividade.

As criaturas saltam contra o guarda. Abocanham com fúria seu agressor. Mas seguindo o ataque, alguns dos que permaneceram sopram relâmpagos, completando o ataque. E com essa, começa uma infestação de lagartos relâmpagos por toda a Mesa.

(…)

Nobunaga é desperto de sua meditação com o alerta. Tholen e Hellen percebem o mar de criaturas escamosas emergindo das sombras do fosso. Haviam vitimado o primeiro dos guardas, e atacavam os sentinelas prontos. Mas a maioria renuía-se nas imediações.

A princípio parecia que as criaturas haviam encurralado o grupo tomando os acessos da mesa, mas felizmente Tholen possuía o dom racial da visão na escuridão. Puxou o sentinela com arco que os acompanhava antes que ele fosse vitimado por um dos lagartos que saltava do topo da rocha cilíndrica. Uma vez no chão, frustrado seu ataque, a criatura vira-se para Hellen, a mais próxima, e sopra um relâmpago certeiro. A energia elétrica corre pelo corpo da feiticeira e com arcos voltáquios riscam o chão.

Mas Hellen não se abala. Com um movimento, ela saca a espada que trazia consigo – a “Senhora do Fogo” - e com um comando, labaredas surgem de sua lâmina negra com runas. E com uma estocada, trespassa o lagarto azul fatalmente.

Mas com a nova fonte de luz, Hellen e o guarda avistavam o que Tholen estava vendo há algum tempo. Os lagartos escalavam na aresta do penhasco da Mesa, e tomavam a torrete. Quando saltassem para a Mesa, fechariam o círculo sobre o grupo.

Tholen pensa rápido, e dá um pisão.

O pisão sísmico de sua bota normalmente estende-se por alguns poucos metros com a onda de choque. Mas com os miúdos adversários na encosta, e empilhados na pedra cilíndrica, o efeito é maximizado. Absolutamente todas as criaturas são projetadas para trás. Os que não morreram com o baque sísmico estavam agora em queda, da qual ou morreriam ou sairiam de combate.

- Wenjaca! - urra Tholen, apressado. - Suba aí, que agora é seguro, e tome o terreno alto! Atire em tudo o que se mover e não for aliado!

O guarda não fala, mas acena positivamente com a cabeça.

- Cê tá bem? - pergunta enfim o anão a Hellen.

- Foi só eletricidade. - confirma ela. - Menos que uma briza.

- Bem, evite os dentes deles então... E ajude como puder.

O anão ruma para o centro da batalha.

(…)

Havia um único lagarto destacado do mar de atacantes. Solitário, ele entrou na direção da fogueira. Akashi agarra um toco de madeira incandescente e atiça na criatura, eliminando-a. Mas seu ato reflexo o fez não sacar suas armas imediatamente... Agora, improvisava contra sete dessas criaturas.

Nobunaga, ao contrário, já havia se armado. Enquanto o tenente cogitava qual a melhor alternativa para o combate, o vulto verde-escuro tomava-lhe a dianteira. Ele estava descalço e sem armadura, mas com um katar impecável, fez um jogo de pernas provocando os lagartos a atacar-lhe com mordidas e sopros de raios, mas nenhum atingia o Hatamoto.

Quando confiante que estava cercado, com o máximo das criaturas a seu alcance, O daicho deixou a baínha. O Ninten, arte com as duas lâminas, era poderosa contra aquele tipo de adversário. No saque de Iaijutsu, duas cabeças voaram. Com uma correção de trajetória, as lâminas regressam conservando a energia, vitimando mais dois e ferindo um terceiro. Este, certo que havia resistido, foi novamente atingido pela arma de apoio, agora encontrando seu fim, e com o encerramento do katar, uma estocada com a projeção do corpo. Duas lâminas encantadas, mais do que suficiente para acabar com os últimos dos animais agressores.

Akashi permanecia segurando a lasca de madeira, imóvel e espantado. Só a largou quando uma chama lambeu seu dedo.

(…)

Quando tomaram ciência da quantidade de inimigos que enfrentavam, a Guarda Vermelha recuou ordenadamente a um círculo protetor sobre Nobunaga. O mar de adversários movia-se pela borda, agora sendo contra-atacado por armas de distância. Particularmente, o soldado deixado na torrete por Tholen. Com posição elevada, podia cobrir seus companheiros sem risco de atingir ninguém com fogo amigo.

Intimidados, os lagartos passavam a soprar relâmpagos. Os ataques individuais feriam, mas não eram mortais, exceto se concentrados em um mesmo alvo. E a carga era limitada. Até aquele momento da batalha, nenhum deles havia cuspido mais de uma vez seus relâmpagos.

As criaturas escalavam, mas não com grande perfeição. Assim, a escada de acesso rente à segunda torrete era a maior concentração daquelas criaturas. Tholen rumou como um touro naquele local. Usava o escudo-torre, agora como uma pá de neve, levando os lagartos que encontrava pelo caminho borda abaixo. A queda no fosso não era uma alternativa definitiva como foi com os que escalaram o penhasco, mas formar um perímetro na entrada era vital.

- Não deixem esses desgraçados me cercarem! - urrou o anão, imediatamente antes de um trovão: um novo pisão sísmico debandar grande número daquelas criaturas.

Na linha de frente, o anão se assombrou quando uma sombra surgiu. Mas depois reconheceu Midori. Ele acocorava sobre os ombros do anão, com kunais com tarjas de runas. Atingiam alguns lagartos, e explodiam colhendo mais dois ou três no ataque.

- Ei! Sai de cima! - protesta o guerreiro. - E onde foi que pegou essas coisas?!?

- L-l-lagartos! - falava Midori nervoso.

- Tá certo... - resmunga, enquanto abanava o martelo na nova linha de atacantes que inutilmente tentavam passar por ele. - Qualquer ajuda é valida! Pode pegar seus lagartos também...

- N...Não! - protesta Midori, mas com o nervosismo, não conseguia se comunicar direito. - E-e-esses s-s-são os pe-pe-pequenos! Eu v-v-vi mamai-maior...

“Maiores” era a palavra. Depois, o grupo iria deduzir que os lagartos relâmpagos temiam humanos, e caçavam solitariamente. Aquele bando era tangido.

Os Trogloditas azuis eram raros em Meliny. Bestiais que se apossaram do Monte Janar, caçados pelas caravanas quando as colônias humanas chegaram, voltaram a prosperar com o fim da rota para Doravânia. Os poucos que transitavam por aquelas paragens acabavam não dando notícias de seu infortúnio.

Tholen não estava esperando um lagarto de quase dois metros emergindo do meio dos pequenos lagartos relâmpago. É atingido no ouvido por uma clava de pedra e atordoado. Mas permanece em sua posição. O troglodita em um ato contínuo envolve o anão em seus poderosos membros, incluindo a cauda, e passava a uma manobra de supressão. O anão resiste a ir ao chão, mas cedia à força da criatura metro a metro.

Subitamente, o abraço fatal encerra. Tholen vê que a criatura parecia hipnotizada, com os braços estirados, e movia-se como se quisesse sair de alguma amarra invisível. Deduz que era uma ilusão assassina de Midori quando o jovem salta sobre o lagarto, e sai impune da confrontação. Tem tempo para uma estocada arterial com a kunai, e uma segunda. A criatura sente duramente o ataque, cambaleia para trás. Midori salta de volta ao topo da cabeça de Tholen, grudando no torrete. Nem imaginava o anão que tipo de imagem mental desguarneceu o inimigo de tal forma.

- Golpe baixo, pivete... - rosna Tholen. - Eu gosto disso.

(…)

Hellen martiriza-se por ter se livrado do Chapéu dos Disfarces quando começou a falar com Tholen. Sem ele, precisava usar sua forma verdadeira para poder voar e contornar a Mesa. Felizmente, com a noite, estava oculta da vista dos seus aliados. O único que poderia enxergá-la seria Tholen, mas este já conhecia seu segredo.

A presença dos trogloditas foi uma surpresa para ela. Mas ao perceber o primeiro, era um que subiu por um lado diferente do guarnecido por Tholen. Ele investiu contra Nobunaga, mas o Hatamoto estava ciente dele, e apto ao combate. Hellen, das sombras, poderia assistir à luta.

O lagarto era imenso e poderoso. A pouca inteligência que tinha não bastava para domar a selvageria, e em uma carga furiosa, ele lança-se contra o espadachim. E então, cessa.

O daichô, ambas as lâminas, apontadas para o lagarto, e a postura de combate do samurai pareciam tirar a fera de sua sede de sangue original. Teria sido intimidada? Não... Criaturas como aquelas não hesitam em atacar. Talvez fugissem se feridas, mas ela era a agressora origial.

A mera presença do poderoso mestre das armas wenhajin soprava a fúria agressiva do selvagem como se fosse uma vela. Geen Nobunaga não triunfara em tantos torneios somente pela força e pelas armas: O vazio que ele projetava avassalava adversários menos que dignos.

Então, uma chuva de lâminas no catar do “ataque que nunca acaba”. O inimigo estava arruinado, tombado ao chão.

Hellen sorri. O Glorioso Dragão era um combatente impressionante. Sua fama era merecida. Deixar as fronteiras isolacionistas de Wen-ha só trará à tona isso. Guiando-o e aos demais, conseguiria o intento de sua mestra em pouquíssimo tempo...

… Mas ainda precisariam sobreviver àquela noite.

Com Tholen na barreira de acesso e Nobunaga atacando os adversários que contornavam ou subiam de formas diferentes na Mesa, bastaria verificar a quantidade de inimigos restante. E o Vão das laterais era a maior trincheira para as criaturas esconderem-se. A feiticeira pousa em uma curva, saca a espada em chamas, reverte à forma humana e aproxima-se. A luz era insuficiente, então mesmo arriscando ser descoberta, ela aproxima a espada incandescente.

O que percebe é que o restante dos lagartos amontoavam nas escadas. Pouco mais de uma dúzia. Eles eram açoitados contra Tholen, que não tinha dificuldade nenhuma em esmagá-los, auxiliado por Midori. Com certeza o anão já havia percebido que estava prestes a triunfar... E também que quem açoitava os lagartos eram dois trogloditas azuis restantes.

Um deles, mais afastado, percebe a feiticeira. Urra a seu colega em seu idioma bestial, alertando-o, mas parte ele mesmo. Avançava curvado tanto que corria. Hellen posiciona-se com ambas as mãos no cabo da “Senhora do Fogo”, descaçada ao lado de seu corpo... Mas não era esse o ataque.

Confiante, o Troglodita estica-se em uma postura ereta. Salivava entre seus dentes, com o peito estufado de macho alfa. A bela fêmea indefesa o olhava com uma expressão vazia. A criatura já imaginava que tomara o grande prêmio. Que a fêmea serviria como chocadeira para sua cria, para acasalar, e como troféu perante o resto do grupo, e todo o mais.

O que a criatura não compreendia era o efeito de três habilidades sobrenaturais simultâneas. A capacidade de vencer a barreira de idiomas tornava a comunicação mais genuína. A telepatia carregava as palavras inaudíveis até a mente do alvo. E o poder sobrenatural de sugestão, tornava um pensamento crível, e escravizara o troglodita aos desejos de Helle'nae, enquanto as sugestões fossem razoáveis.

O segundo troglodita se aproximava. A feiticeira não poderia manter dois presos ao mesmo tempo... Mas não precisava. Bastava mandar um único pensamento para o seu escravo atual:

“Meu companheiro vai me roubar a fêmea”.

A possessão e a testosterona fazem o resto. O lagarto parte correndo com o máximo de velocidade e fúria que pode contra o rival. O companheiro troglodita observa surpreso quando seu aliado o agride com a clava e com fúria. Uma vez provando seu próprio sangue, a criatura entra em fúria e responde ao agressor de forma igual, e assim os lagartos azuis começam uma batalha até a morte. Mesmo o primeiro esquece o motivo da luta, só sabia que deveria matar seu inimigo.

Hellen guarda a espada e aguarda o desfecho.

(...)

Com o número minguado de lagartos, Tholen recua abruptamente. As criaturinhas no ânimo da luta, ignorando que seus feitores haviam deserdados, partem para o terreno amplo, onde estavam cercados pela Guarda Vermelha. Um círculo de morte guiado por Akashi forma-se, e os últimos dos monstros começam a ser esfolados.

Tholen olha com satisfação. Dai Ni foi vitimado no primeiro ataque, mas mais nenhum foi ferido mais seriamente. O anão, na linha de frente, tomou o golpe surpresa do troglodita, mas todos os demais foram ou superficiais ou sequer passaram por sua defesa sólida. Midori estava a seu lado, via-se com o talentoso anão. Graças ao desnecessariamente grande escudo que carregava, conseguia boa cobertura para prestar auxílio sem se expor muito.

Nobunaga estava ligeiramente mais afastado. Ele parecia igualmente incólume. Olhava severo para os corpos espalhados na “mesa”, a grande maioria dos lagartos relâmpagos e o único troglodita a alcançar o platô elevado, exterminados por sua técnica. Era um triunfo anunciado...

… Mas ainda não garantido.

Um urro de horror. E um tremor. O arqueiro que Tholen havia deixado no torrete não imaginava olhar nos olhos de tal inimigo. Um titã de outrora, escalou sem dificuldade o precipício, com seus quase quatro metros. Não era troglodita, mas um gigante com traços dracônicos. Com poder para escravizar trogloditas e lagartos-relâmpagos, e mais inteligência para usá-los em emboscadas, para cansar os oponentes, antes de colher os restos.

Nobunaga estava na linha de frente do novo adversário, temerário. Leva as armas às respectivas baínhas e concentra seu Iaijutsu. Não era tolo. Sabia que aberrações tão grandes exigiam ataques poderosos, e não cirúrgicos como fez com todos até então. Midori, contudo, percebia algo... Reconhecia que o inimigo era ainda mais do que trasparecia. Mas em seu espanto, sequer gaguejar conseguia. Corria com o máximo de sua velocidade para alcançar Nobunaga.

Temia que, se batesse de frente com o gigante, o hatamoto seria destruído.

O gigante movia-se com peso, diferente dos lagartos. Nobunaga apenas aguardava entrar em seu alcance e ter mais um glorioso duelo. Ouvia os passos apressados de Midori detrás de si, e sente quando seu kimono é agarrado, e começava a ser puchado.

Era tarde demais.

O lagarto começa a estralar a língua. Cada vez mais rápido. Seu avanço cessa antes mesmo de entrar no que o samurai considerava área ameaçada. Cada estalo, mais e mais relâmpagos se acumulavam. A criatura tinha uma arma de sopro. Um destrutivo cone de raios, liberados com fúria.

(…)

Hellen percebeu o clarão e o som trovejar sobre a fenda, mas estava ocupada.

O duelo entre os dois trogloditas havia se encerrado. O primeiro triunfou. Talvez por ser mesmo superior, talvez por ter dado um primeiro ataque no inimigo surpreso. O fato é que pagou em sangue a vitória. Perdeu metade da garra esquerda. Sangrava rios de cortes ao longo do tórax e crânio. Perdera os dentes do lado direito. Talvez ficasse cego do olho direito. Ao menos a cauda arrancada ele sabia que cresceria de volta.

Mas sob a influência que tinha, achou que valeu a pena.

Caminhou triunfante, curvado para trás, com o peito estufado para a fêmea. A cabeça balançava com seu andar falho projetando uma cômica sensação de arrogãncia. Hellen olhou para seu “senhor”, o enorme lagarto de mais de dois metros, que enfim estica sua garra boa para tomar seu prêmio.

Helle'nae toma a garra com suas próprias mãos.

E pronto.

O lagarto não entendia o que acontecia. O braço inteiro começou a formigar. Logo depois, as pernas perdiam forças, e o vitorioso estava de joelhos diante da fêmea. O olhar dela era uma perversão do que havia visto antes... Uma luminescência rubra como brasa, cara enrugada em um esforço sobrenatural e sádico. Com um toque, ela drenava as energias restantes do troglodita. Se saudável, talvez a criatura pudesse conseguir tempo, afastar-se, livrar-se do toque da morte... Mas não. Respirar torna-se uma penúria. O sangue para de verter das chagas com a diminuição e eventual ausência de pressão arterial.

Helle'nae Mooredriff não tinha uma refeição tão boa há meses. A liberdade de agir sem a supervisão de Tholen era magnífica. Estasiante. Libertadora.

(…)

- Nobunaga-sama... Nobunaga-sama...

Foi tudo rápido demais. Aquele pequeno shinobi conjurou forças que nem imaginava ter para tentar tirar do cone de morte o samurai. Agora estavam caídos no chão. De relance, Midori percebeu uma proteção onde pode aplicar seu reflexo numa evasão desesperada com o hatamoto a tiracolo. Depois, veio a cegueira.

Com os olhos recuperados, os dois wenhajins percebem qual foi a salvadora cobertura que se apossaram... O escudo-torre de Tholen Hammertower, projetado para longe de seu corpo, a cobrir os dois.

A pele do anão parecia uma casca de queimadura velha. Barbas e bigodes tinham princípio de chamas, e os olhos do guerreiro estavam cerrados. Seu corpo pendia por cima do cabo do martelo, tal qual uma muleta. Para proteger os companheiros, o anão recebeu uma descarga que mataria um homem saudável...

… Descarga que o baixou para pelo menos um terço de sua vitalidade.

Parecia um morto regressando à vida quando os olhos de Tholen abriram de novo. Ele virou-se na direção do gigante. A pele cauterizada nas juntas rasgava com esses movimentos. O escudo-torre é enfim abandonado, caindo ruidosamente no chão. Ele só atrasava o anão.Era feito para proteger os outros, não a si mesmo.

Nobunaga não acreditava que ainda existia fulgor de luta no guerreiro. Lembrava Tsé Hida Fuji, seu companheiro hatamoto, em termos de vigor e desprendimento. Por um longo momento, era Tholen contra o Gigante. A criatura estalava a boca. Queria recuperar sua arma de sopro, mas demoraria ainda. Com isso, abre a guarda para o anão arremessar o Flagelo, seu martelo de gelo. Certeiro no focinho, a criatura híbrida cambaleia sangrando. E perplexo, percebe que a arma retornava em uma elipse à mão do anão.

O gigante não estava impressionado com o ataque, embora dolorosa combinação do impacto e do encantamento congelante. Mas com uma distância segura adquirida, Tholen saca seu escudo de ferro, bate os dois pés no chão, e urra em um clamor furioso, um desafio lançado. Entrava na postura de Dol'oan, dos anões defensores.

- T... taijutsu! - olhava admirado Midori, reconhecendo fibras e energias sobrenaturais na posição do anão. Ele recebia forças extraordinárias quando em posição defensiva, e guardara para o derradeiro combate.

O gigante pega velocidade, aceitando o desafio. Ergue a clava e choca com um arco baixo no anão, um quarto do seu tamanho, um décimo de seu peso. Tholen não vacilou. A clava encontrou uma barreira que não venceria. Vara ineficazmente para trás.

O anão pisa no chão uma última vez. A última carga de seu pisão sísmico. O gigante desequilibra-se, e cai de joelhos no chão diante de seu inimigo natural. Tholen passa a castigá-lo com o martelo, agora alcançando a face do oponente. O colosso tenta levantar-se, mas só para ser atingido mais uma vez pelo pequeno titã.

Refeito do assombro, Nobunaga levanta-se. Transcreve um arco com uma corrida, e agora flanqueava a monstruosidade com Tholen. Todo o poder e vigor do gigante meio-dragão era minado por um lado pela velocidade e precisão de um samurai, com golpes velozes. E por outro pelo peso da tradição anã de enfrentar gigantes. Um único instante que o oponente conseguiu voltar a ficar de pé e impor seu tamanho superior foi para no instante seguinte receber um corte definitivo, que míngua sua estamina e tomba de costas ruidosamente, fora de combate.

Midori pensou em auxiliar os guerreiros, mas estava além do assombro. Posicionou para um contra-ataque, mas jamais o monstro esteve perto de ferir qualquer um dos dois. O gigante ainda estava consciente quando percebeu seu destino. Estava de olhos abertos, e via que

Geen Nobunaga preparava um corte limpo de decapitação. Seu último ato de desafio foi encher a boca de cuspe e projeta-lo. O hatamoto escapou do ataque. O anão, não.

- Okey... Chega. -fala o anão, tomando a frente de Nobunaga. - Tentamos do seu jeito... é hora de fazer lambança.

O gigante percebeu o erro que cometeu. Ao invés de uma morte limpa e rápida, teria seu crânio esmagado seguidamente por um anão furioso. Nobunaga podia ser contra a selvageria, mas preferiu adiantar-se a Hellen que chegava, para poupar a dama da brutalidade.

(…)

O sol surgia no horizonte, mas pouco sono aconteceu naquele lugar. Helle'nae brincava da quantidade de cargas de varinhas de cura gastou para restaurar a vitalidade de Tholen, enquanto a guarda vermelha sepultava seus dois colegas caídos. Os corpos dos agressores, mesmo o gigante, jogado à vala do fosso lateral.

- O jogo dos Shorians são de dois times. - explicava Nobunaga a Tholen, enquanto o dia novo revelava os detalhes da construção em que a terrível batalha ocorreu. - Eles lutam com um artilheiro elevado nas torretes e dois combatentes. O melhor time é o que combina, com magia ou com aço, ataque, defesa, e artilharia protetora.

- Hmp... - resmunga Tholen. - Neste caso, quem ganho fomos nós, não foi?

Nobunaga olha admirado o companheiro de luta.

- Mais cedo, eu fiz troça de seu pensamento de que poderia... “quebrar qualquer um”. - fala enfim. - Pelo que vi esta noite... Creio que você poderia … tentar, com certeza.

- Hah... Você ainda não me viu sem ter de carregar cabeças-de-bagres nas costas! - resmunga em tom de desafio o anão.

O hatamoto e o guerreiro caminham lado-a-lado de volta ao acampamento que se desfazia, nos últimos preparativos para seguir viagem.

- Acha que podemos nos chamar... depois dessa, de os “Campeões da Mesa de Jogos”? - pergunta o anão. 

- “Mesa de Jogos”? - estranha o samurai. - Vai provocar confusões...

- Já fui “desbravador”... “flagelo”... - pondera Tholen. - Quero ser “Campeão”. Soa bem.

(...)

Midori estava afastado, com um último dos membros da guarda, passando unguento em queimaduras de raios que ele não alcançava. Hellen aproxima-se, e entrega um volume.

- Seus cartões. - fala ela, revelando o que se tratava. - Tomei a liberdade de corrigir os valores. E eu usei tinta... Melhor que carvão.

Midori observava. A caligrafia da feiticeira era muito melhor que a dele, e muitos dos prejulgamentos dos talentos do anão e da gaijin haviam sido corrigidos.

- Tholen tem uma teoria meio louca... - continua ela. - que ele serve para ser lido sobrepondo uns aos outros. Que o resultado é o conjunto dos valores, e não as forças individuais...

- Hai. Mas ele e-e-está c-c-certo! - Midori balança freneticamente a cabeça concordando. - Nobunaga-sama f-f-foi feito por um s-s-shinobi melhor que eu... P-p-para miminha missão... Mas eu p-p-prometo que n-n-não vou usar essa i-i-informação co-contra vocês.

- Eu sei que posso confiar em você, querido... - Hellen brinca com os cabelos espetados do jovem. - Eu sei que posso...
► Continua

4 de junho de 2013

Os PJs: Aprofundando

Aviso: Contém spoilers.



Yuuhi "Gago" Midori

Humano. Shinobi (combina talentos ninja e de feiticeiro). 15 anos. Wen-ha, Aldeia da Montanha das Quatro Faces, domínio Wu do Oeste.

Auto-proclamado "Mestre dos Trotes", O Shinobi Gago da Montanha das Quatro Faces possui um repertório digno. Aluno acima da média em encantamentos e ilusões práticas, combina com seus talentos ninja e habilidade com armadilhas - mesmo mecânicas e explosivos de pólvora. Usa um leve Fishnet como armadura sobre suas roupas verdes. Sua arma de escolha é uma machadinha, mas é mais comumente visto com kunais, que lhe serve como ferramentas ou como meios de enviar a distância explosivos e cordas.

Embora fraco fisicamente para confrontos diretos, Midori é inacreditavelmente discreto quando quer. Sumindo das vistas de seus algozes e atacando furtivamente, ou atraindo oponentes para armadilhas. Midori pode desorientar com ataques diretos ou mesmo elaborar ilusões para disfarces ou mesmo tirar seus inimigos do prumo. Também conhece magias de deslocamento - como andar na água e nas paredes - e encantar cordas para lhe conferir a liberdade ... Ou tirá-la de seus oponentes.

Se preciso, Midori pode lançar fúria bárbara em si mesmo ou em seus aliados ou inimigos, dependendo do que a estratégia precisar. Também é capaz de desfazer condições arcanas com o meto toque.

Por fim, uma pedra iônica em sua testa - o "Olho do Espírito" - é capaz de desprender e voar autonomamente e através de sólidos (exceto metais muito densos ou além do seu alcance). Midori consegue fazer ataques de toque através deste item.

O Mestre dos trotes pode parecer um palhaço, mas em seu coração, Midori deseja ser aceito e reconhecido. Gosta de complementar talentos de colegas e explorar fraquezas de seus inimigos. Se motivado, ele pode ser um adversário extremamente técnico e complexo.


Helle'nae "Hellen" Mooredriff

Succubi. Aparenta e apresenta-se como uma feiticeira humana de beleza quase divina, sempre elegante e alegre. Idade imensurável. Agra, Domínios de Chellar, semiplano de Felgoz.

Capaz de lidar tanto em cortes regenciais como em festejos de tavernas. Usa como foco de combate uma espada longa flamejante "Senhora do Fogo" e usa uma besta leve de apoio, mas quase nunca assume a linha de frente. Prefere usar seus poderes para quebrar a linha inimiga, mesmo jogar um oponente contra o outro com sugestões e manipulação.

Na forma humana, Hellen não pode fazer uso de suas garras ou asas, mas essa falha foi contornada com um chapéu de disfarces, no qual a "feiticeira" mantem sua imagem humana, preservando a farsa a quem observa á distância. Como atriz sagaz, ela pode usar seu disfarce para se passar por qualquer um que ela estude algum tempo. O encantamento do chapéu pode ser desfeito, mas sua forma humana não é desfeita a não ser por vontade própria.

Também traz consigo um anel do Escudo Mental, que protege sua identidade de leituras mentais e habilidade de detectar alinhamento. Outro anel que traz torna suas garras armas mágicas avassaladoras, uma resposta veloz contra adversários perto demais.

Sempre vestida de forma elegante ou provocante, mesmo prejudicando a eficiência do corselete de couro de tubarão encantado para minimizar viagens longas. Mas em sua bagagem, diversos tecidos e roupas podem elaborar visuais adequados ás ocasiões mais formais.

Sua linhagem rara a permite detectar e transmitir pensamentos até 30 metros de distância. Também consegue detectar o bem, e lançar sobre si mesma o poder das línguas, sendo capaz de se comunicar com qualquer criatura com idioma oral. Ela possui considerável proteção racial, e uma sobrenatural resistência a energias (frio, fogo, ácido e eletricidade). Mas deve evitar entrar em ambientes sagrados.

Além de seus poderes naturais de sugestão (acima da média das Succubus), e uma transfiguração moderada (pode passar-se por qualquer raça humanóide...) Hellen é capaz de curar ferimentos drenando vitalidade com um toque. Se esse toque for um beijo, sua vítima permanece paralisada e à mercê da succubus.

Hellen foi introduzida nas artes bárdicas, e pode usar truques para obter vantagens menores (ventriloquia, mãos mágicas, Lullaby e atordoar). Seu instrumento de escolha são as castanholas, bem como seu canto associado ao carisma sobrenatural.

Hellen é imune a venenos. Não precisa dormir. E se não precisar manter sua máscara de "boa menina", pode ser avassaladoramente cruel...


Geen "o Glorioso" Nobunaga

Humano. Samurai e duelista. Sofisticado poeta, e implacável executor. 29 anos. Wen-ha, Akiobara (Nobunaga no Sato), Domínios de Geen do Norte.

Nobunaga é um espadachim elitista de um exótico reino. Mesmo consciente de que está entre povos de cultura exótica, seus votos permanecerão inquebráveis

Com considerável fortuna à disposição, temos um espadachim de linhagem, portador de um Daichô "desperto", quase entidades em separado nas suas armas. Enquanto seguir o código do Bushi, Nobunaga é infinitamente mais veloz em seus ataques que seus oponentes. Sua postura suprema é capaz de paralisar agressores menos centrados, seu catar torna quaisquer de suas investidas uma onda sem fim de lâminas, e sua postura Ninten é uma defesa tão eficiente quanto a tonelada de aço que Tholen carrega consigo.

O Samurai resguarda 5 pontos de Chi que ele pode gastar para simular Ataque Poderoso, Especialização em Combate, melhorar seu acerto, ou neutralizar o ataque de um inimigo naquele turno (vontade 15 + a quantidade de Chi na ocasião - “postura Suprema”). Uma vez por dia, se resguardado em meditação por 20 minutos com sua Katana familiar, Nobunaga recupera os cinco pontos para novo uso. A Wakizaki (lâmina menor) concede os benefícios de um escudo pequeno ou de uma lâmina, sem penalidades.

Além disso, Nobunaga possui Trespassar aprimorado, Saque rápido (Iaijutsu), e Lutar com 2 armas aprimorado.

Bem-nascido, bem-casado, talentoso e disciplinado, o Dragão verde galgou o posto de Hatamoto - instrutor espadachim da guarda real wenhajin - e a alcunha de "O Glorioso". Mas em seu âmago perfeccionista, Nobunaga não sente realizado. Segue um objetivo condutor de refinar à perfeição sua arte da espada, e jamais fica omisso às injustiças à sua frente.


Tholen "O anão filhadaputa" Hammertower

Anão. 53 anos. Lyon, cidade-fortalesa de Dol'oam, chamado de "Forte das Armas" ou "Torres das Armas". Mais especificamente da Torre do Martelo.

Consideravelmente vigoroso. Apesar de duro, é destro em combate, somando isso a sua sólida defesa, combinando armaduras e escudos pesados. Usa como arma principal o Martelo "Flagelo de Gelo", tomada de um rei ogro, mas faz uso de machadinhas de arremesso e dos cravos de um escudo pesado de ferro como armamento secundário.

O anão é um caçador dos inimigos de sua raça - orcs, ogros, gigantes e drows. Leva vantagens significativas contra essas criaturas.

Além das armas e escudos, consta em seu arsenal uma armadura pesada de adamantina, encantada para aumentar a proteção e complementada com uma pérola de movimentos livres. Mas com efeito, Tholen tem problemas para saltar e escalar. Atado a ela, uma capa da grande resistência, que compensa sua morosidade em reflexos, reforça a sua vontade combinando com as defesas anãs, e amplia ainda mais sua já extraordinária fortitude.

Também consta manoplas do arremesso - permitindo não só arremessar armas à disposição como também conferindo a propriedade retornável a elas - e as Botas do pisão, que uma vez acionada, dispara um cone a 9 metros, derrubando inimigos menos ágeis e objetos. Ambas possuem três cargas diárias.

Tholen é um Defensor Anão de Dol'oam. Se concentrado na postura defensiva, e fixado imóvel em um ponto, ele consegue auferir maior força, resistência e habilidade, tornando-se um obstáculo insuperável a inimigos.

De tempos em tempos, campeões do Forte das Armas (Dol'oam) envia um emissário ao mundo, em busca de pista dos povos anões perdidos nas guerras, e em especial da deusa desaparecida. Tholen é o viajante desta geração. Orgulhoso de sua raça e de suas proezas, o anão é visto com desdém por seus modos brutos e mentalidade simplista. Tholen responde com sua carga pessoal de preconceito, em especial a "raças livres" como elfos e humanos.

Apesar de duro e nem sempre bondoso, Tholen é leal á palavra dada, e não hesitaria em arriscar a própria pele pelos companheiros.