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12 de setembro de 2016

[Meliny] [Conto] Paradoxo


E acabou.

“A Guerra”.

Houveram outras. Grandiosas. Gloriosas. Sangrentas, mas aquela era a derradeira Guerra.

Deuses, demônios, elementais, a própria existência enfrentando seres com conceito tão abstratos que eu não consigo sequer encontrar palavras para descrever.

A Barreira caiu. Eternidade e Esquecimento se chocaram, não como oponentes em combate, mas como dois cometas em colisão. E o mundo, entre os dois, foi esmagado.

“Vencemos”? O Inimigo foi derrotado, mas ao custo de quase tudo o que foi vivo outrora. E vou além de corpos físicos, espíritos.
Dos mortais, só sobraram três. Minha filha, seu esposo… e eu.
Quanto tempo até a própria atmosfera voar? E a entropia nos dissolver? Não sei. Talvez morramos de fome antes. Talvez da loucura. Talvez tiremos nossas próprias vidas.
Tudo por minha culpa.
Perdi minha esposa, meus filhos, minha raça. Todas as raças. Não foram deuses, não foram reis. Não foram magos. Fui eu.
Minha filha, há algumas dezenas de metros, consola seu esposo ferido. Eu não consigo estar na presença dela sabendo que fui eu quem fiz tudo isso. Minhas decisões. Não importa que ela dissesse que foi uma conclusão inevitável.. Que glorioso general eu fui. Que mago impressionante. Que rei. Que pretenso deus. Permiti que o fim acontecesse.

Culpava minha breve existência, como se eu tivesse mais tempo eu tivesse um resultado melhor que seja.


Caio de joelhos.



E se fosse outro? – Ouso pensar. – Se seguissem um melhor homem, capaz de tomar as decisões que eu não tomei? Qualquer que fosse. Será que mesmo se perdêssemos para o inimigo seria um destino tão pior que a não-existência? Que o fim de tudo?


Ao menos, talvez, minha esposa estivesse viva. Dane-se os universos, os velhos deuses. Dane-se a guerra. O nome dela – nome que não recordo enquanto escrevo isto – valia mais do que a vitória, a coroa, o poder.



Ainda havia um meio.



Se eu nunca tivesse existido.



E havia alguém… Algo… Que nunca deveria ter existido. E não havia mais barreiras para ele.
– Ink…- Falo só a primeira sílaba. Dizer seu nome inteiro num domínio que ele governa é ser lançado ao esquecimento. Tudo o que você fez deixará de existir.



Inkarna



Não haviam mais domínios. A Barreira caiu. Este bolsão em que os três últimos mortais aguardam o fim era tudo o que existia agora… era óbvio que ele estaria lá.
Ele não tem forma, mas sei que ele estava presente. Era como uma sombra de calor deformando a paisagem imediatamente à minha frente. Ele, que outrora era senhor de infinitos universos, limitava-se a uma esfera, pouco maior que meu castelo quando no auge. Ele está na minha presença.
Eu não consigo continuar. Mas tal qual uma besta treinada, ele estava lá. Esperando que eu falasse por ele.
Eu ainda tinha medo... Como é a natureza dos mortais, não? Era o fim da minha fé e de meu mundo, e minha mortalidade ainda pesava.



– Então você ouve, não é? – Eu delirava. Decidi conversar com o próprio esquecimento. – Você quer essa última vitória? Um último mortal e entregando a você?
Não percebo reação. Ele apenas aguarda. Eu caminho hesitante até ele… Estava tão próximo que a deturpação ocupava todo meu campo visual.
– Acho que você não tem culpa…. Nem disso. – Falo enfim. Tinha uma rizada débil entre minhas palavras. – Você nem mesmo pediu para existir. Você é uma força da natureza, não é? Culpá-lo seria como praguejar e amaldiçoar as flechas ou o fogo que atiram em nós…
Aproximo minha mão. Quase toco-o… Mas minha covardia me faz recuar no último instante.
– Você sequer entende o que estou falando? – Urro enfim ante a inércia de meu julgador. A loucura se tornava raiva. De certa forma, um progresso. – Eu falei com o último dos deuses. Eu pude presenciar a distância deles para nós mortais, e o que eu seria então para VOCÊ?!? Como funciona seus sentidos, sua consciência? Você é sequer parecido com isso e eu sou ainda mais insignificante? E mesmo assim você me OUVE?!?



Nada. Eu invejo isso. A capacidade de não sentir. Simplesmente “Ser”... “Estar”...



– Você foi infinito genuinamente. – continuo. – Precisaria de centenas de panteões para governar seu domínio. E você estava lá quando começou. Quando era o Uno. Você é tão maior do que nós…



E naquele momento tive a epifania.



– Não, você não é.



Inkarna era, para as crianças a quem explicávamos os dois entes supremos conhecidos, um terreno onde deuses e demônios “cultivavam” seus domínios. Era uma aproximação infantil para mentes não prontas para compreender o multiverso e as existências. Mas e se não fosse?
O Esquecimento foi usado como arma pelos Deuses para encerrar os imortais caídos – tanto seus inimigos imortais derrotados como seus irmãos imortais destruídos.
Inkarna foi a fonte de poder que gerou o abismo.
Foi o solo sobre o qual diabos e demônios ergueram o inferno.
Era de onde divindades malignas clamavam por retribuição a paladinos. Era onde se bebiam almas sacrificadas. Era o último trono de Valen, de Zar, de Nod, de Theris, de Gyhthon. De tantos antes e de tantos depois.
Ele era o definitivo recurso do inimigo. Ele causou o fim de tudo.
Mas ele era como o fogo. Tantos o usaram para imolar os inimigos que achavam que era sua corrupção quem guiavam seus atos, não o contrário. Agora, eu olhava aquela força da natureza, que dava luz a divindades aberrantes e destruía universos por capricho… e vejo nada. Nem a consciência de um animal. Era poder bruto GUIÁVEL. E só aguardava que eu clamasse seu nome. Gritasse “Inkarna”.



Eu deixaria de existir para todo o sempre.



Meus erros passados. Cada decisão – acertada e errada – seria desfeita.
História se reescreveria.



E minha esposa não teria o triste destino de ter me conhecido.



Era a mais covarde das saídas. Não era céu nem inferno, nem o fim de agora em diante… Era a não-existência desde a gênese.



Mas tantos o usaram, esse poder obtuso de formas tão terríveis e grandiosas… Essa forma abstrata, conceitual e despersonalizada…

Por que não eu?

Por que não uma última vez?

Eu não berraria por Inkarna. Eu faria Inkarna berrar o próprio nome.
Levaria tudo comigo.
Eu o sinto reagindo quando eu o agarro com as mãos. Eu sentia pelo tato como se segurasse as peles de um animal imenso e obeso. Ele protesta… Ou pensa que assim o faz. Ele esmagou todos os universos, mas agora parecia à mercê daquele par de mãos mortais débeis e desesperadas. Ele, que concentrava o que não deveria existir. Ele, que era múltiplos infinitos, era escravo de sua própria natureza. Tinha o poder, mas não a vontade.
E enfim falamos juntos. O nome.
Inkarna.
——————————
Sabem o que é o Paradoxo?
É quando uma condição de existir é a contradição de si mesma.
Não, o Esquecimento não deixou de existir. Ainda bem. Ele era um dos dois fundamentos de tudo o que existiu, e vai existir. Imagine não poder esquecer nada que se aprende, e não corrigir conceitos equivocados do passado... Ou não poder ... Perdoar.
Cogito isso enquanto costuro minha túnica. Eu não sou o esquecimento. Eu poderia ser apagado. Mas por paradoxo, apenas me desassociei de tudo. E assim, tudo o que faço precisa de labor para ser e estar. A linha ao contatar minha túnica se torna parte de mim. Ela não mais pode interagir sequer com a luz, então ela a reflete em sua forma mais pura e branca.
Estou me vestindo pela primeira e última vez. Na sacada de minha torre.
Olho para o céu. Sargan e Lantaris estão a segundos de se chocar em guerra. Os demais deuses buscam a seu modo resguardar uma fração de sua criação – quase a totalidade da vida está prestes a perecer – para quando o inverno passar. Aquele seria o pior evento a ocorrer no Plano de Meliny em dois bilhoes de anos… Mas é um mero e efêmero fenômeno para mim que vi o fim de tudo.  Já vejo as sociedades se reerguerem, e caírem, e se reerguerem mais algumas vezes.
Penso em ver o começo. Conhecer o Uno nas frações de segundo que ele existiu. Mas … de uma forma… acho que estou lá. Vendo-o. Ele é tudo. É impressionante… e está morto agora. Acho que ainda vou lá…. Ou já fui. Tanto faz. O Conhecimento que tenho não é linear.
Eu não existo mais no mesmo tempo em que vocês. Inkarna me atendeu. Mas isso só quer dizer que eu não deveria existir… Tal qual ele próprio. Mas eu não sou uma força primal. Eu tenho uma consciência.
E tenho a história. O conhecimento.
Moldo tempo.
Tenho uma segunda chance…. Tenho tantas chances quantas eu deveria ter.
Aquele futuro de desespero e entropia não existe mais. Não se eu não quiser… E eu não o quero.
Terei de posicionar as peças com antecedência. Eu sei o que vai acontecer. Posso revisitar a história. Manipular heróis. Cidades. Reinos. Deuses. A Eternidade e o Esquecimento, se necessário. Tenho tudo o que já foi e o que será à minha disposição… exceto o rei mago que eu fui nos últimos dias do universo. Este nunca existiu.



Eu sou Cronus.

8 de março de 2016

A Espada de Nod

Hannah, a Forjadora dos Deuses. A primeira e uma das últimas dos Titãs. Martelava com a força de seus músculos ampliados pelas bênçãos de suas ferramentas. Um vulcão era a fornalha. Era necessário para gerar o calor suficiente para purificar os metais a serem redobrados e ao mesmo tempo manter o sigilo daquele acordo tenebroso.
Foram semanas só neste processo final. A lâmina era uma peça inteiriça estreita, sóbria e pouco floreada. Ainda assim, uma arma digna de um dos Deuses Guerreiros da corte de Othen, embora destinado a outro. A alguém que, muitos diriam, era menos que digno.
Mas o pagamento era mais valioso do que qualquer obra de arte. Qualquer montante de pedras preciosas ou metais que pudessem ser expelido de estrelas distantes ou do interior dos próprios planos. E ela não podia negar tal bênção ofertada.
O Deus do Sangue ganharia sua espada.
Ele estava lá. Chegara. Ela sentia. Não adentrava à câmera de lava, cujas paredes se incandesciam por um calor de segunda mão. Seria o fogo sua fraqueza? Não. Seria fácil demais. Ele apenas aguardava no conforto de uma antecâmara natural. Ele era pontual, tinha de admitir. Outra arma, Hannah poderia ficar mais tempo trabalhando, e o “cliente” que esperasse. Era a Deusa da Forja, a quem o metal e a rocha obedeciam aos caprichos... Mas aquela pobre folha delgada e inanimada estava destinada à profanação. Queria se desfazer dela o quanto antes.
E a peça de 90 centímetros emergia da última requentação.  Estava amarela brilhante tal qual um sol nascente tamanho o calor aplicado, mas reduz seu brilho à luminescência rubra com o tempo fora do fogo. Assim podia adequadamente mergulhar no gelo de óleos e sais preparados que dariam o tratamento final. Uma coluna de fumaça branca-azulada emerge quando a lâmina beija a tina. Ela se torna negra, exceto pelo delgadíssimo gume, tal qual uma listra cromada que começava na espiga da empunhadura, cruza o guarda-mão e ascendia até a ponta em delta.
Estava pronta, embora inacabada. O cabo e o pomo, e outros detalhes posteriores seriam personalizados pelo que a encomendou. Mas a peça bruta era uma espada digna de Hannah.
Ela caminha solenemente. Produziria um receptáculo e uma bainha se estivesse orgulhosa de seu labor. Mas sentia vergonha. Entregaria apenas o que Nod Dracul pediu, e pelo que ele pagaria. Nada mais.
Para alguém que nasceu homem, ele era titânico. Alto e musculoso, mas seu porte era elegante e imponente. Vestia suntuosa composição de camisa reforçada e colete de ouro em placas ornamentado. Botas pesadas, mas alinhadas à composição. Uma fita presa tal qual uma gravata e afixada num rubi circular que parecia vivo. Mas quase tudo isso ofuscado pela longa capa dupla vermelho-sangue a envolvê-lo. Pousava nos ombros duas vezes, e descia até a altura das canelas de forma esvoaçante. Dela, aquele rosto duro e aterrorizante emergia. Cabelos impecavelmente penteados com um topete e encaminhos nas laterais. Seus olhos semicerrados não demonstravam íris, mas era possível saber para o que ele olhava. Aquilo em que seu olhar pousava sentia o peso do seu julgamento.
E agora, era a espada negra na mão da deusa/titã.
Só depois desse escaninho, Hannah se deu conta do corpo no chão. Fora brutalmente agredido o que parecia ser um drow, um elfo negro sem vida. Suas vestes em farrapos impossibilitavam a identificação, mas o rosto era conhecido de Hannah, o que a fez gelar.
- Esse é Thanberdetris, o Fazedor de viúvas?!? – pergunta enfim.
- O ingrediente do despertar... A alma de um deus. – Thanberdetris, assim como o próprio Nod, havia ascendido dentre seus iguais à divindade menor, e pertencia à corte de Naron. Era um vil assassino, mas tremendamente poderoso e cheio de recursos. Se Nod o derrotou e aparentava tão bem, talvez como guerreiro ele fosse digno de uma espada de Hannah.
- Honestamente... – fala ela. – Pensei que tentaria usá-la contra mim. Mas mais provável que um dos seus asseclas fosse vitimado outra vez.
Ela se referia aos Regentes das Trevas. Era uma corte menor emancipada por Lantaris, composta pelos senhores dos mortos-vivos. O Dracul, deus dos Vampiros, seria um dos componentes, não alguém com liderança, embora considerassem que na prática não fosse assim. O comentário ácido de Hannah referia-se também ao caído Jiholian, senhor dos Liches e dos esqueletos, que muitos suspeitam ter sido arquitetado por Nod.
- Eu me ressinto de que pense que eu me sujeitaria a manobras tão desprezíveis, minha senhora. – fala o Deus do Sangue com leveza, embora sua voz soasse como um rosnado. – O mundo seria um lugar pior sem você e seu ofício, mas ficou muito melhor sem um monstro como aquele. – Nod maneia a cabeça em direção do corpo caído.
- E é isso que tem em mente? Um mundo “melhor”? – protesta intimamente Hannah. – Que seja. Nós tínhamos um acordo.
- Aqueles que vêm de Wehha e do Plano da Infinita Guerra tem a confiança de Othen, por que eu perderia meu tempo com desconfiança minha? – Nod Dracul caminha firme na direção da deusa da forja. – Há muito eu paguei o que você me pediu. Os anões estão livres pela eternidade.
 Os Anões. Foram gerados quando os titãs revoltosos ousaram desafiar os Deuses. Hannah não se uniu à revolta, mas implorou para que recebessem uma nova chance. Desde então, a Deusa da Forja era a guardiã dos anões. Prometera a Nod uma espada digna dos deuses maiores se o mal que corre no sangue dele não afetasse seus protegidos.
- E quanto a minha confiança? – fala ela, ainda hesitando em aumentar ainda mais o poder daquela criatura para proteger os seus. – Como eu posso confiar?
- Cogitei em trazer um dos seus robustos aqui mesmo, executa-lo e conferi-lhe meu sangue pessoalmente. Assistiríamos juntos se ele se ergueria como um filho meu, uma criatura do sangue... Ou se simplesmente definharia e morreria como é o natural. – Nod silencia um segundo ou dois antes de continuar. – Não achei de bom gosto.
Hannah ergue a lâmina... A espada que forjou. Talvez a maior e mais poderosa que já fez arma até então, abaixo apenas da Lancastorm. Ainda hesita.
- Que o tempo diga então se o Dracul trai sua palavra. – fala enfim. Ele não ergueu a mão e pediu... Ele queria que a Deusa lhe entregasse a arma espontaneamente, assinando assim sua complacência com horrores vindouros. – Se surgir um anão com meu sangue, com qualquer similaridade com minhas crias, ele e seu criador serão inimigos tanto seus quanto meus. Até lá, seu sigilo é mais benéfico a você do que a mim. Mas a mancha de eu faltar com a palavra não me é interessante. Agora, minha senhora... Só cabe a você a conclusão.
O que Othen pensaria? Era um acordo digno. Ao Senhor da Guerra, o fato de Nod ser um flagelo ao mundo dos mortais era irrelevante. Ela era a Deusa da Forja. Aplicava seus talentos em prol dos seus protegidos, garantindo potencialmente todas as almas de seu povo – atuais e futuras – da escravidão vampírica. Os termos eram claros, isso não impedia que as crias de Nod se alimentassem deles, apenas que de um anão não nasceria um vampiro.
O peso do mundo estava naqueles quinze quilos de aço-liga de Arkâniun, minério estrelar, Aetérniun e de puras trevas. Era uma arma e um receptáculo. Indestrutível aos meios mortais. A lâmina que cortaria tudo com a qual a força do esgrimista aplicasse. Capaz de absorver as qualidades e essências de tudo o que toca. Potencial simbiôntico com o Deus dos Vampiros. Rasgaria até as dimensões e os caminhos dos planos, se manuseada adequadamente.
Para ativar, faltava a alma de um deus menor. E ai entra Thanberdetris.
Nod segura a peça pelo espigão, ainda sem empunhadura. Aqueles olhos mortos pesam na lâmina. Um sorriso desenha em sua marmórea face. Um discreto sinal de aprovação.
- Como a chama? – pergunta enfim.
- “Espada de Nod”. – Hannah não daria um nome mais rebuscado ou personalizado. Aquela peça teria usos tenebrosos, que constasse apenas o óbvio. Nod Dracul não pareceu decepcionado, insultado ou homenageado por isso.
Agora caminhava até o corpo do deus drow.
- Imagino que tenha resguardado a alma dele. – fala a Deusa. – Era preciso a alma de um deus menor, não um cadáver.
Nod não responde. Apenas se aproxima até ficar a distância da estocada. E de forma firme e lenta, ele a faz. Fazia mira e corrigia o trajeto da ponta.
E o corpo sofre uma convulsão. Hannah se assusta. Podia jurar que estava morto... E sua suposição era muito mais precisa que a mera observação mortal. Eram os sentidos de uma deusa, não uma constatação devido a inércia. No assombro, em uma fração de segundos, ela também constata que o espasmo se deu instantes antes da ponta da folha sequer tocar no corpo. Como se a alma de Thanberdetris estivesse de alguma forma invisível a ela, mas deitada sobre o cadáver.
O cromado da lâmina lentamente se tornava rubro como sangue. Subia à medida que ela ia absorvendo as energias. E o cadáver tremia mais e mais violentamente. Hannah não entendia o que acontecia. Como poderia alguém estar vivo e morto ao mesmo tempo? Derrotar em combate Thanberdetris era um feito de poder bruto significativo, mas aquela perversão da própria natureza dos seres – mesmo considerando que Nod é por si só um deus, um demônio e um morto-vivo – lhe fugia a compreensão.
Mas como lhe foi instruído, uma alma de um ser, não menos que um deus menor, deveria ser sacrificado e seus dons coletados no receptáculo para despertar a arma. Tal qual a vindoura obra maior de Hannah em alguns séculos cobraria sua própria vida, um item único nasceu naquele vulcão.
Uma arma e uma entidade por si só.
Digna de um deus.