Já tratei AQUI de patologias na gênese do personagem. Agora
tratarei de doenças e desvios de conduta que surgem nos personagens já com as
sessões em andamento.
O Jogador Narrador
Tipo de esquizofrenia
rara em que o personagem acredita ser o Mestre de Jogos. Especialmente se ele
possuir qualquer nível de influência sobre personagens diversos (npcs
companheiros, familiares, mestres ou protegidos). Mas pode delirar sobre o
próprio universo, declarando que existem coisas que não existam.
Ha algum tempo, um
personagem chegou a "0" pontos de vida, e o sistema permitia ao
narrador declarar que aquilo era um atordoamento, a exaustão física total ou
inconsciência. Em qualquer dos casos, o personagem estava imobilizado e fora de
ação. Antes da decisão, o jogador "decidiu" que estava atordoado, que
saiu andando cambaleante (e não ficou no chão imóvel, como deveria ser o
sentido da regra), entrou zonzo num churrasco numa casa vizinha (nota: Era um
cenário medieval), e os convidados acharam que era um de seus colegas bêbados e
curtiram com ele, enquanto o destino do mundo era resolvido num duelo do outro
lado dos muros.
Infelizmente, houve
muito menos exageros nesta frase do que eu preferiria.
O Jogador incoerente
Versão menos grave -
mas igualmente danosa - da patologia acima, o personagem torna-se uma
bomba-relógio. Entenda: EXISTE personagens "Bombas-relógio" por
definição... Com benefícios e penalidades decorrentes deste comportamento. O caso
em estudo é uma flagrante tentativa de se aproveitar de um e de outro, ou
apenas encher o saco do Narrador.
Passamos ao exemplo:
O personagem nasce como Paladino "leal e bom", com alta humanidade,
bondade, honra e respeito. Com isso, recebe naturalmente autorização de
príncipes e lordes para ter acesso à Corte. Mas uma vez na mesa, ele decide
matar indistintamente, agir como um imbecil, descumprir a palavra dada e tudo o
mais. Isso quebra as expectativas do pobre Narrador, e extrapola quando, na
cidade vizinha o regente alertado do comportamento do espécime em estudo,
nega-lhe quaisquer privilégios, e o narrador tem de ouvir: "Mas Mestre...
ele é um paladino! Ele deveria ser paparicado como tal!".
Isso segue para o
próximo exemplar:
O Savático da conveniência.
Nem sempre o Narrador
é o melhor conhecedor do sistema na mesa. Eu mesmo conheço brilhantes
montadores de ficha que eu só aceito jogar ao seu lado se meu personagem for
pelo menos 2 níveis de personagem acima dele.
Esta não é a questão.
O Narrador onipotente pode controlar o nível de ameaça, caso ache que os
monstros ou desafios indicados para o nível dos jogadores não esteja bastando.
O Savático ou
Matemático da Conveniência é um profundo estudante das regras de seu
personagem, seja a classe, seja a raça, combinações de raças e classes, e até
mesmo uma única manobra específica. Ele memoriza com exaustão a regra a ser
explorada e extrapolada tal qual um físico teórico estuda um buraco negro, e
está sempre pronto para interromper o narrador se sua programação for ameaçada
por coisinhas como "Resultado de dados", "conveniência da
história", "Ordem do Narrador", E ETC.
O aspecto
"conveniência" da patologia é porque a maioria dos sistemas buscam
equilíbrio, e exigem pontos positivos e negativos de igual monta... Mas os
défices são "convenientemente" ignorados ou arredondados ao zero
quando esquecidos pelo Narrador. Dane-se o pré-requisito, penalidades de acerto
ou dano, ou se há limites de uso diário. Se não é uma regra favorável, "eu
não sou obrigado a reportar".
Parta do princípio do
equilíbrio se um paciente irromper com um "bônus omitido": Se existir
penalidades esquecidas do mestre que são negligenciados pelo jogador, não
hesite em dizer "não". Mesmo que o paciente mostre a declaração
textual do livro de regras daquele evento específico. É muito provável que uma
ação anule outra que ele não teve tanta presteza em demonstrar.
O Narcoléptico
Também conhecido como
"Personagem de corpo presente", este personagem é quase um NPC. O
narrador deduz que ele caminha com os companheiros, mas ele fica alheio à
explanação, não toma iniciativas, chegando ao cúmulo dos outros jogadores
tomarem decisões por ele. "O Ladrão! Ande para a esquerda, aí eu vou poder
flanquear o Goblin" e "eu fico no corredor. O ladrão vai destrancar a
porta. E quando ele conseguir, eu tomo a dianteira e a gente segue na
masmorra".
Existe uma
possibilidade de ser culpa do Narrador (o que se confirma se a situação for
endêmica na mesa), mas normalmente é um novato ainda receoso sobre até que
ponto pode ir com o personagem, ou alguém que realmente não está envolvido no
passatempo, estando lá apenas pelo companheirismo. Ambas as situações
louváveis... Mas um estudo direcionado ao desenvolvimento do personagem (e do
jogador) é melhor do que meramente empurrar o personagem para onde ele seria
mais convenientemente aproveitado.
O #Vidaloka
Preocupe-se se o seu
jogador já chegar com duas ou mais fichas e já adiantar "é para quando meu
chars morrer".
Na mesa de jogos, a
mortalidade é um aspecto dramático. Claro, deve ficar restrito à mesa, e
naqueles momentos da sessão, mas a princípio todos os participantes devem temer
a morte e suas consequências. Mesmo aqueles que são por naturezas prontos ao
sacrifício.
O #Vidaloka (Leia-se:
Hast Tag Vida Lô-k) extrapola um
pouco no quesito "diversão". Toma atitudes conscientemente imbecis
que arriscam a si mesmo - e aos seus companheiros - sem a necessidade. Quase
que sempre na intensão de "aparecer" e conseguir rizadas.
Normalmente um pouco
da personalidade "engraçaralho" transcende do personagem ao Jogador,
tornando-o um cara de convívio e aos olhos dos outros inofensivo. Logo, muitas
vezes o narrador erra e confronta o jogador, tornando-o malquisto na mesa.
Deve o maestro dos
dados estudar muito bem caso-a-caso, verificar se o grupo concorda com sua
opinião quanto ao espécime, e agir rápido se achar que a mazela ameaça se
espalhar pelo resto do grupo.
Ou então, jogar TOON
ou PARANÓIA.