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18 de setembro de 2024

Xitarr'0


 Xitarr'o era um aventureiro curioso desde que se entendia por gente. Seus passos ágeis o levavam para terras distantes, e sua mente inquieta ansiava por novos horizontes. Mas, um dia, em meio a uma de suas tantas jornadas, ele embarcou em um navio que prometia levá-lo para um reino além-mar, cheio de mistérios e riquezas.


Mal sabia ele que a viagem seria sua grande transformação.


Uma terrível tempestade se formou, tão repentina quanto violenta, e o navio foi partido ao meio pelas ondas implacáveis. Xitarr'o, que sempre confiou mais em sua velocidade do que em sua habilidade de nadar (ou a total falta dela), foi lançado ao mar. Em meio ao caos, ele se agarrou a um pedaço de madeira e deixou as águas o levarem para onde bem quisessem.


Acordou, dias depois, em uma ilha pequena e deserta, com palmeiras balançando ao vento e o som distante das ondas quebrando nas pedras. Ele se sentia aliviado por estar vivo, mas logo percebeu um problema fundamental: não havia como sair. Ao olhar para o horizonte, a costa era visível, mas parecia impossível para ele alcançar. Afinal, ele não sabia nadar. Tentativas de entrar na água resultavam em pânico e muito espirro de água salgada.


E assim começou a vida de Xitarr'o como um ermitão exótico, como a aldeia costeira mais próxima viria a chamá-lo.


Os Anos de Silêncio 


Nos primeiros dias, a ilha era um tormento para Xitarr'o. Ele caçava pequenos caranguejos e procurava frutas, mas logo descobriu que seus maiores inimigos não eram a fome ou a sede, mas a solidão e o tédio. E, para piorar, ele precisava de pássaros para garantir suas refeições mais generosas.


Com o tempo, ele desenvolveu uma técnica única: sentava-se imóvel, por horas a fio, até que os pássaros pousassem, confiantes de que ele era apenas mais uma rocha ou árvore. Isso exigia uma paciência absurda, algo que Xitarr'o nunca teve em excesso. No entanto, ele aprendeu a respirar devagar, a acalmar a mente e a encontrar um foco interno, uma paz que ele jamais havia sentido antes. Aos poucos, ele percebeu que estava meditando – canalizando um poder que não sabia que possuía.


Aquele estado de tranquilidade passou a ser um refúgio em meio à monotonia da ilha. Ele não estava mais apenas esperando os pássaros; estava esperando por algo mais. Com o passar dos anos, o que começou como um truque de sobrevivência se tornou um caminho espiritual. Ele não era mais o mesmo aventureiro inquieto; estava se transformando em algo mais profundo, mais centrado.


O Encontro Surpreendente 


No quinto ano de seu isolamento, algo estranho aconteceu.


Certa manhã, enquanto Xitarr'o estava em sua habitual postura meditativa, ele ouviu passos na água. Lentamente, abriu os olhos, imaginando que algum grande animal estivesse vindo em sua direção, mas, para sua surpresa, viu um homem, um pescador local, caminhando calmamente com a água batendo nos tornozelos.


O homem olhou para ele com uma expressão meio confusa, meio divertida. “Então você é o ermitão exótico que o pessoal da aldeia fala tanto?”, perguntou o pescador.


Xitarr'o piscou, tentando processar o que estava vendo. O pescador continuou: “Há anos falamos de você. Um sujeito felino que vive sozinho nesta ilha... Mas nunca entendi por que você nunca veio até a aldeia. É só uma caminhada de algumas horas.”


Xitarr'o, ainda incrédulo, olhou para a água ao redor da ilha. Sempre pensou que era fundo demais para atravessar. Ele não sabia nadar, afinal! Mas, ao se levantar e colocar uma pata na água, percebeu que a profundidade mal passava dos joelhos.


O pescador sorriu. "Você nunca tentou?"


Xitarr'o riu, uma risada que começou tímida e se transformou em uma gargalhada profunda. Cinco anos. Cinco anos de meditação, foco e sobrevivência… quando tudo o que ele precisava fazer era caminhar.


O Caminho Continua 


Xitarr'o deixou a ilha naquela tarde, com um novo propósito e uma nova visão de si mesmo. Ele não lamentava os anos de isolamento; afinal, foi ali que ele encontrou a paz interior e o caminho do monge. Mas a lição mais importante que aprendeu? Às vezes, a resposta está mais perto e é mais simples do que imaginamos – e o verdadeiro obstáculo pode estar apenas em nossa mente.


Agora, ele estava pronto para o mundo novamente, mas dessa vez, com o coração calmo como a superfície da água que nunca ousou atravessar.



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