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6 de abril de 2024

AYRO - Inconciência

 

 
Estou deitado em um tatame de linho... na verdade só minha cabeça está no tatame. Estou de costas em um assoalho de madeira. Está amanhecendo... A luz de um “horizonte” me incomoda.
 Eventualmente abro meus olhos. Não estou de armadura, nem ferido. Estou em trajes brancos, Uwagi entreaberto, Obi alta. Faixas de couro com feitiços de “cura” ou algo que eu não consigo traduzir literalmente, mas instintivamente sei o que seria.

Uma baforada familiar. Sávia. Aroma inconfundível, pois eu trouxe de minha terra. A Sávia de Toshi Hambo era seca, e não vi nada parecida por toda a minha estada na terra dos Fênix. Quem estava roubando meu escarço fumo?

O veterano.

Percebo-o, ajoelhado no chão. Somente anos após meus treinamentos suplementares entendi que aquele era Doji Hayaku, ancestral de minha família. Muitos perguntavam sobre o misterioso tutor que me fez despontar com a arte da lança, como se só eu o encontrasse. Mesmo o fato de sua voz abafada não sair de sua boca – calada após três anos nas Terras das Sombras – e sim ouvida em minha mente e coração.

- Eu estou morto? – me parecia a pergunta mais óbvia para se fazer. Não reconhecia aquele ambiente, e minha última memória foi de me reerguer para enfrentar o Caído, um samurai ampliado com magia corruptora... e caindo de novo.

- Eu estava pronto a interferir..., Mas não foi necessário. – Fala ele. – Está feliz agora?

 A resposta não me deu claridade. Ele não interferiu porque os outros o fizeram, ou minha mortalha tinha sido rápida demais?

- Se eu consegui que meus companheiros tivessem a chance de...

- Brilhar enquanto você cai? – ri ele. – Finalmente foi sua vez, não foi? Depois de Sena e Muramassa nas minas. Depois de Rayden na caverna da Yura. 

- Depois... de Kaneda... – completo eu.

O resmungo retórico do veterano cessa. Ele esvazia o conteúdo do cachimbo no chão, e calmamente começa a limpá-lo com uma toalha.

- Pensei que havia aprendido com o torneio. – Fala ele severo. – Eu vejo potencial em você que você mesmo não percebe. Estava na total mediocridade, então decidiu ajudar aquele garoto mimado a se tornar um samurai melhor. Bayushi Gushotsu salvou sua vida duas vezes. Quando alertou da traição dos Hida, e quando tirou o garoto da equação.

- Foi... Diferente.

- Mesmo?

Eu me ergo do chão com dificuldade. Não sentia dor, mas era como se não tivesse quase nenhuma força. Posto-me em posição de Lótus na direção das costas de meu ancestral.

- Raiden caiu com a Yura, e eu não pude apoiá-lo. A criatura das minas me ignorou mesmo eu me expondo. O dragão e a Fênix quase sucumbiram. Hoje, eu fui o Escudo de meus companheiros, como meu avô foi o Escudo da Garça. 

O veterano ouvia com disciplina e gestos contidos. Teve tempo de limpar o cachimbo e o embrulhar com a mesma precisão de uma cerimônia do chá. 

- Eles não são Daidoji Abiru. – Um leve tom jovial informal acompanhava as palavras dele. – O caranguejo é obcecado por seu corpo e sua força. O Dragão possui hormônios descontrolados. O escorpião nem se dignou a confrontá-lo. O leão precisa que alguém o pegue pela mão para fazer o básico do Bushidô... e não tenho tempo para enumerar os problemas do Shujenga. 

- Mas eles são minha unidade, senhor. – Falo enfim. – E eu não sou mais virtuoso que eles.

- Você sequer entende seu próprio potencial... – O Veterano balança a cabeça. – Quando o Kakita morreu, achei que você teria entendido!

 Aquilo gelou meu âmago.

- O senhor... foi quem fez...

- Não. O Bayushi fez pelos próprios méritos. – Ele acena de forma dura. – Mas até então, você estava sendo medíocre. Comemorando uma partida de tabuleiro? Carregando concorrentes nas costas? Mas quando parou de tentar moldar o Kakita em um samurai melhor, você ganhou todas as provas que participou. 

- Foi diferente do Kaneda. – Falo enfim. – Alguém seria o alvo da fúria do Caranguejo. Eu era o melhor equipado para resistir. A técnica dos leões é melhor contra armaduras mais pesadas. E Muramassa possui maior controle e versatilidade. 

- Então, você estar aqui... comigo... – Hayaku se ergue e estende os braços, como se apontando todo aquele quarto confuso. – Não foi um erro?

- Erro foi eu não ter antevisto os olhos da filha do Kisugi em meu gato. Erro foi a criatura da mina ter me ignorado e quase vitimado Sena e Muramassa. Erro foi deixar nossa retaguarda exposta e Hida Raiden quase perecer para a Yura. Hoje... Eu fui o Escudo do Império. Hoje, fui como meu avô antes de mim.

Aquele poderoso espírito de outrora caminha firme para mim, parando pouco à minha frente. Sua cabeça penava para o lado. Podia ver as cicatrizes em sua garanta e os olhos severos dentre os cabelos esbranquiçados consequência de seus três anos nas terras Sombrias. 

- Então acho que é melhor você ser um escudo melhor. – Fala enfim. – Já sei qual o treinamento passar assim que costurarem seus ossos de volta à forma. Que aquelas crianças saibam que podem contar com Daidojo Ayro a seu lado.

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